O juiz Renan Carlos Leão Pereira do Nascimento, da 4ª Vara Cível de Rondonópolis, em Mato Grosso, deferiu o pedido de recuperação judicial do Grupo Terra Fértil, sediado em Água Boa (MT), com dívidas de R$ 181,1 milhões.
O grupo pertence ao casal Paula e Vilson Andriollo e ao filho Tyrone. O negócio familiar tem como foco a produção de soja, milho e gergelim e integração lavoura-pecuária (ILP) para engorda de gado bovino.
De acordo com o advogado Tarcísio Cardoso Tonhá Filho, do escritório Frange Advogados, um dos responsáveis pela defesa do Grupo Terra Fértil, aproximadamente 80% da dívida é com instituições financeiras, sobretudo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O grupo também tem dívidas com revendas, e não possui débitos trabalhistas.
Na decisão, o juiz considerou que o grupo é “economicamente viável” e que há indícios de comprometimento dos donos em preservar a operação.
Como parte da decisão, os credores ficam impedidos de arrestar ativos do grupo durante os 180 dias de prazo concedido para o Terra Fértil elaborar e obter aprovação dos credores do plano de recuperação judicial.
Além disso, o magistrado definiu como “essenciais” os bens listados pelo grupo - fazendas, tratores e maquinários - ou seja, esses bens serão mantidos pelo grupo durante o processo. Ficaram fora da lista de itens essenciais uma motocicleta Ducati e grãos produzidos pelo grupo.
O Grupo Terra Fértil cultiva grãos e mantém integração lavoura-pecuária (ILP) em 3,6 mil hectares . Da área total, 3 mil hectares são próprios e 600 hectares são arrendados. O grupo possui 30 empregados diretos.
O juiz ainda determinou que o advogado Rogério de Lellis Pinto atuará como administrador judicial do grupo durante o processo de recuperação judicial.
O Grupo Terra Fértil tem um prazo de 180 dias para elaborar o plano de recuperação judicial e apresenta-lo para aprovação pelos credores. “A perspectiva é que no próximo ano seja realizada a assembleia geral de credores para repactuar as dívidas, para a empresa continuar produzindo em Água Boa, gerando riqueza e tributos para a região”, afirmou Tonhá.
Histórico
O Grupo Terra Fértil foi fundado em 2001. Em 2004, enfrentou a primeira crise, com o impacto de problemas econômicos no Brasil. Dez anos depois, uma seca extrema que paralisou o plantio levou o grupo a enfrentar nova crise. Em 2019, os sócios venderam fazendas em Ribeirão Cascalheira (MT) para quitar parte das dívidas.
Em 2022, o grupo viu a crise financeira piorar com o aumento da taxa Selic. Segundo a companhia, os juros de contratos de empréstimo subiram na época de 5,5% ao ano para 30,1%.
Ainda tentando se equilibrar, o grupo sofreu prejuízos na safra, por causa da seca em Mato Grosso no segundo semestre de 2023. “O grupo fez uma grande renegociação com credores, mas por causa da perda na produção, o tamanho da dívida aumentou muito”, afirmou Tonhá.
Além da quebra de safra por causa do clima, o pai de Vilson, Olmiro Andriollo, com quem ele tinha negócios em conjunto, faleceu em 2021, e as dívidas foram assumidas pelo grupo, que pagou R$ 40 milhões em débitos do patriarca, aprofundando ainda mais a sua crise.
“Havia uma expectativa de que a partilha dos bens do pai seria tranquila, mas houve divergências entre os irmãos e ela ainda não foi concluída. Com isso formou-se uma crise de forma geral”, disse o advogado.