A falta de dados precisos no setor pecuário brasileiro foi um dos temas centrais abordados por Felipe Fabbri, analista de mercado e da cadeia de produção animal na Scot Consultoria, durante a 20ª Jornada Nespro, que ocorreu na capital gaúcha. Fabbri destacou a necessidade urgente de informações concretas para melhorar o gerenciamento das operações na pecuária.

"É impressionante como a pecuária ainda carece de dados consistentes, em contraste com a agricultura, que já deu passos significativos nesse sentido", afirmou Fabbri. Ele notou que muitos pecuaristas ainda resistem a mensurar informações fundamentais, como os índices de mortalidade e ganho de peso, o que acaba dificultando o gerenciamento eficiente de suas propriedades.

Um dos dados alarmantes apresentados pelo analista é que apenas 20% das fazendas de pecuária de corte no Brasil possuem balanças para medir o peso do gado. "Sem essa informação básica, como é possível avaliar se o desempenho do sistema de produção é adequado? Sem mensuração, não é possível entender os custos envolvidos, nem determinar o melhor momento para compra e venda de insumos", explicou Fabbri.

A resistência a mensurar dados no setor pode estar ligada a fatores culturais. Historicamente, a atividade pecuária no Brasil esteve associada à abertura de novas áreas e a processos de colonização, o que, segundo o especialista, pode ter contribuído para essa desatualização em relação ao uso de tecnologia. "Em regiões mais consolidadas, como o Centro-Sul, a dificuldade persiste, mas é ainda mais acentuada nas fronteiras agrícolas do Centro-Norte", observou.

Fabbri também mencionou a regionalização do uso de informações na pecuária, ressaltando que algumas áreas enfrentam dificuldades no acesso a tecnologias que permitam a mensuração de dados. "No Centro-Norte, por exemplo, a limitação do sinal de celular e de internet é uma barreira que impede o monitoramento adequado das atividades pecuárias", afirmou ele.

Para melhorar essa situação, o analista defende a necessidade de adotar ferramentas mais modernas, que vão além do tradicional caderninho de anotações. "A transição para sistemas de inteligência computacional é crucial. O uso de tecnologia deve ser uma prioridade para todos os produtores", disse.

Em comparação com a agricultura, a pecuária ainda tem um longo caminho a percorrer no uso de dados e tecnologias. Fabbri atribui essa diferença ao fato de que a agricultura, especialmente com a exportação de commodities como soja e milho, foi incentivada a adotar tecnologias mais cedo. "O Brasil é um dos principais fornecedores de commodities agrícolas a nível global, e isso estimulou o acesso à tecnologia. No entanto, a carne bovina, que está crescendo no mercado de exportação, ainda precisa evoluir nesse aspecto", ressaltou.

Atualmente, aproximadamente 40% da produção de carne bovina brasileira está direcionada para a exportação, um aumento expressivo em relação a uma década atrás. "Os nossos principais importadores, como a China, demandam bovinos com até 30 meses de idade, e a União Europeia exige rastreabilidade no ciclo de vida dos animais. Essas exigências do mercado forçam o setor a se modernizar", concluiu Fabbri.

Diante dessas reflexões, a importância de mensurar dados na pecuária se torna cada vez mais evidente. A capacidade de coletar, analisar e agir com base em informações poderá determinar o sucesso ou o fracasso dos pecuaristas brasileiros na competitiva arena do mercado global. O desafio agora é como integrar essa tecnologia de maneira eficaz e como educar o setor para a sua importância.

Nesse contexto, a jornada do conhecimento e a adaptação à era da informação são fundamentais para que a pecuária brasileira não apenas sobreviva, mas prospere nos próximos anos.